quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Aceitar, respeitar, tolerar


Os meus melhores textos, aqueles que eu me orgulho de ter postado neste blog surgiram de alguma provocação muito forte. Algo com o poder de me deixar sem sono, inquieto, sem pensar em outra coisa. E mais uma vez aconteceu.

Aos amigos e a quem possa interessar: sabe por que eu sou (dizem que virei) ateu? Porque não acredito em um deus (ser supremo, criador ou a nomenclatura que for) propagador de intolerância, egoísmo e preconceito entre seus seguidores. Não creio em superioridade de qualquer ser sobre-humano, nem de qualquer humano sobre outro.

Em uma sala, durante uma reunião de negócios, conversava com pessoas de alto gabarito. Algumas já são da minha convivência e as tenho com grande admiração. Outras estou conhecendo agora e demonstram caráter excelente. Entre elas, há relação duradoura que lhes permite compartilhar opiniões sobre tudo que lhes seja próximo ou até mesmo distante. Afinal, o importante é dizer o que se acha certo.

Na TV, aparecem cenas de uma celebração de umbanda. Pessoas vestidas de branco, tocando tambores, entoando pontos de orixás, trazendo oferendas, etc... Duas Pessoas Inteligentes da sala se manifestam, em voz baixa, perceptível a mim:

P.I.1: - Ê macumba...
P.I.2: - Ééé...
P.I.1: - Dizem que são todos boiolinhas!
P.I.2: - Estão todos perdidos.

Para sorte do meu cérebro, o papo parou aí, mas o estrago já estava feito. Olhei para o teto com a mesma feição séria de quando estou pensativo. Era preconceito demais para eu não pensar a respeito. Lembrei de todos os meus amigos gays, lembrei dos meus amigos umbandistas. Passou o filme dos meus seis primeiros anos de vida quando, toda segunda-feira à noite, ia ao terreiro de umbanda bater meu tambor porque eu era filho do pai-de-santo.

Naquela hora, sem conseguir emitir qualquer resposta, apenas senti vergonha de todos e por todos: da nossa humana incapacidade de aceitar as diferenças; da nossa inferior forma de exigir respeito sem respeitar quem nos contrapõe; e da nossa cruel falsidade em apenas tolerar o que não foge da zona de conforto. P.I.1 e P.I.2 continuam tendo a minha consideração, afinal todos deslizamos e até caímos para nos levantarmos depois.

Eu, gerado e criado à imagem e semelhança dos meus pais (pai-de-santo e católica), sou ateu. Acredito no ser humano e que ele pode um dia, melhorando a si mesmo, criar na sua vida o mundo que a maioria almeja para depois da morte. Eu tenho consciência e orgulho do meu passado, ajo no meu presente e estou determinando o meu futuro. Não busco a perfeição nem seres perfeitos, mas se conseguir desenvolver em mim mais aceitação, respeito e tolerância, já estarei muito satisfeito.

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