quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Hora da Voz do Brasil

Na abertura do 26º Congresso Brasileiro de Radiodifusão, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), anunciou que colocará em votação, na próxima semana, a proposta que flexibiliza o horário de A Voz do Brasil. O projeto será aprovado por ampla maioria de votos, já que o movimento pró-flexibilização é muito forte por parte de diretores e comunicadores de importantes emissoras de rádio do país. 


A questão colocada neste texto é: a quem realmente interessa a aprovação deste projeto? Ao ouvinte de rádio? Aos próprios diretores que encabeçam o lobby? Ou ao mercado publicitário? Até agora, os argumentos que ouvi favoravelmente a esta flexibilização são provincianos, superficiais e parecem ser a ponta de um iceberg de interesses. Além disso, a forma como são colocadas as opiniões é altamente falaciosa e antidemocrática.


Leia a notícia
Marco Maia promete votar flexibilização da Voz do Brasil 

Fonte 'Agência Câmara de Notícias'


Para começar, é dito que A Voz do Brasil é um resquício da ditadura. De fato, o programa de rádio mais antigo do Brasil começou a ter veiculação obrigatória em 1938, durante o Estado Novo, regime autoritário do então presidente Getúlio Vargas. Por si só, isto não é um defeito. Basta lembrar que a Lei do Salário Mínimo, a Consolidação das Leis Trabalhistas, a criação da Justiça do Trabalho, o direito de greve dos trabalhadores e o voto feminino também surgiram nessa época. A data de nascimento não pode definir o caráter de quem quer que seja, ainda mais de um programa que presta serviço a todo o país.


Também repete-se, a todo momento, que A Voz do Brasil atrapalha a transmissão de eventos, como jogos de futebol, que ocorrem entre 19h e 20h. Todos que acompanham futebol sabem que os horários das partidas obedecem aos critérios das emissoras de televisão, que detêm os direitos de transmissão. Por que a Confederação Brasileira de Futebol têm tanta consideração com as novelas da TV e esquece que as rádios também têm suas obrigações de programação? É óbvio que está se encontrando o culpado errado pelo problema: as tabelas e os organizadores das competições é que são desfavoráveis às emissoras.


CBF ignora a programação das rádios na elaboração das tabelas de jogos.
Fonte: Site da CBF. Link de Origem


Este levante, repetido nos programas das rádios e levado às redes sociais, nasceu nas principais emissoras dos grandes centros do país. São cidades que movimentam um número expressivo de campanhas publicitárias e o horário de A Voz do Brasil é cada vez mais cobiçado. Não é necessário um grande poder de análise para perceber quem serão os maiores beneficiados com a mudança de horário que será aprovada na Câmara (e não sejamos ingênuos, é apenas o primeiro passo). O movimento que tenta calar a Voz omite que as emissoras são, na verdade, concessões públicas e uma hora diária na programação é um espaço justo para o poder público prestar contas à população.


Nessa história, o ouvinte é quem não tem muito a ganhar. Passei quase toda a vida morando em cidade do interior e, cada vez que viajo a uma nova localidade, a primeira que faço é ligar o rádio. Assim, posso afirmar com alguma experiência: Voz do Brasil é um programa mais bem editado e apresentado, e com informações mais relevantes do que a grade jornalística inteira de 95% das rádios do Brasil. Somente as grandes emissoras do país, uma minoria, têm condições de cobrir a política em Brasília como a população merece. O que dá na Voz é a manchete dos jornais do dia seguinte ou, às vezes, esquecido pelas editorias e escondido do público.


A Voz do Brasil tem conta no twitter com 31 mil seguidores.
Maior audiência do programa é no Nordeste e Centro-Oeste.
   

A palavra de ordem na gestão pública do século XXI é transparência. Os que ainda 
acreditam na força do veículo rádio deveriam aproveitar a chance de acompanhar todos os dias, em AM e FM, o que os três poderes da República têm a nos dizer. Ao invés disso, só se ouvem vozes conduzindo o povo a um movimento que visa acabar com essa ferramenta. A Voz do Brasil é cidadania. É o ministro prestando contas para o ouvinte, é o deputado e o senador defendendo as ideias do seu eleitor, é o judiciário decidindo os direitos e deveres legais de cada um de nós. E, no dia em que isso não acontecer mais, o rádio perderá um contato direto para qualquer brasileiro cobrar.

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