sexta-feira, 20 de abril de 2012

Atitude reprovável


Achei perdido um texto que escrevi no dia 6 de julho de 2007, na forma de editorial, para uma disciplina durante a faculdade. Como a minha opinião sobre este assunto não mudou de lá para cá, compartilho-a agora com os amigos:

Atitude reprovável

A Universidade Federal de Santa Maria permite aos seus alunos a opção de ter diferentes matrículas em mais de um curso de graduação. A medida não é comum em outras instituições públicas de ensino superior que, igualmente, são financiadas pela sociedade. Já as faculdades particulares apoiam esta iniciativa dos seus estudantes, através de descontos nas mensalidades.

O estudante que admite carecer de uma formação acadêmica mais completa ou se interessa por diversas áreas do conhecimento pode cursar disciplinas em outros cursos, além do seu de origem. Esta opção é viável e não onera os cofres públicos. Já uma nova matrícula na UFSM, mesmo coberta com os louros da aprovação no concurso vestibular, perde seu valor ético e não faz bem à sociedade. O investimento público, neste caso federal, que poderia ser feito em outro aluno é acumulado em um indivíduo pouco preocupado com o bem alheio.

Dúvidas sobre a escolha da futura profissão também podem influenciar na busca por uma nova área de estudo. Ainda longe do ideal, a UFSM oferece a Feira das Profissões que auxilia os candidatos, mesmo os universitários, na difícil decisão. Este modelo já superou com larga vantagem os ultrapassados testes vocacionais.

O critério simplista da aprovação no vestibular é posto em cheque mais uma vez. A oportunidade de ocupar mais de uma vaga na mesma universidade federal é um convite ao individualismo e um desafio às tentativas de democratização do ensino no país. Clóvis Lima*, (ex) Reitor da UFSM já afirmou, mais de uma vez, que este processo é injusto. A consciência de nossos acadêmicos pode torná-lo um pouco menos.

*Quando o texto foi escrito, Clóvis Lima ainda era o Reitor da UFSM.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

"A história do samba"


Quando o Exaltasamba anunciou show em Brasília em maio de 2011, eu não pensei duas vezes: comprei um ingresso em um dos melhores lugares do estacionamento do Estádio Mané Garrincha, que sediou o espetáculo. Fui e curti muito, afinal teve abertura do Sambô, só para quem estava no camarote, além do som contagiante do Jamil. Tudo isso apenas esperando o grupo de Thiaguinho, Péricles e outros músicos, que foram importantes para o pagode no Brasil nas décadas de 1990 e 2000. Porém, como a maioria dos grupos de sucesso nacional, o vocalista Thiaguinho resolveu seguir carreira solo, numa empreitada que, até hoje, só deu certo para Alexandre Pires.


Os fãs do grupo ficaram tristes com a notícia, inclusive aqueles que, como eu, acreditam que a melhor fase do Exalta foi nos anos 90, quando as músicas chamavam mais a atenção do que o cantor. A questão que eu discordei muito nessa história não foi tanto a separação total do grupo que, ao que parece, não vai mais voltar. O problema mesmo foi uma declaração infeliz, daquelas que a gente ouve e só tem a reação de ficar quieto e balançar a cabeça negativamente. O cantor Thiaguinho, de história meteórica no pagode, afirmou categoricamente que "mudou a história do samba".


HÃ??


Além do show do Exalta, eu também tive a felicidade ver, no ano passado, as apresentações de Arlindo CruzDiogo Nogueira e Leci Brandão aqui na Capital Federal. Nas vezes em que Paulinho da Viola, Dudu Nobre e Roberta Sá estiveram aqui, não consegui ingresso, provando que o povo brasiliense tem bom gosto e muita rapidez (hehehe). 


Arlindo, Diogo, Leci, Paulinho, Dudu e Roberta pertencem a um time que Thiaguinho não faz parte, só ele não vê assim. Para mudar a história do samba, meu caro, tem que fazer samba, o que é muito mais do que rebolar e arrancar gritinhos das fãs espremidas na frente do palco. A imagem que coloquei aí em cima mostra alguns daqueles que são a história do samba. O ex-vocal do Exaltasamba só mudou a sua própria história: usou sua voz e talento para passar de um mero participante do programa Fama, da Rede Globo, a um emergente do pagode romântico com músicas muito dançantes. Esta é a diferença.


O show de Diogo Nogueira foi um dos melhores de 2011 para os sambistas de Brasília
No camarote, com a grande Leci Brandão


Thiaguinho tem talento de sobra para, um dia, ajudar a construir a história desse ritmo amado por tantos. Não foi à toa que eu fui no seu show sem pensar duas vezes. Na carreira solo, ele pode se dedicar ao samba, com uma nova banda e novo repertório. Porém, eu duvido que isto aconteça e o vocalista deve continuar sendo mais um pagodeiro do Brasil, no sentido mercadológico da palavra. Se ainda não ficou clara esta diferença básica, eu uso a frase de um grande amigo meu, o roqueiro Ciro Oliveira, que afirmou o seguinte:


"O pagode mexe com o teu corpo. O samba mexe com a tua alma".