sábado, 10 de março de 2012

Samba é no boteco

Como samba é um assunto que o santa-mariense gosta de ler, pelo que já vi, vamos falar mais do assunto. Por que será que as melhores rodas de samba acontecem nos bares e botecos? Eu não tenho a resposta definitiva, mas pelos meus giros por esse Brasil afora, percebi que os botecos são muito mais aconchegantes, se parecem mais com a nossa casa e quem toca nesses lugares mostra muito mais prazer e sinceridade naquilo que faz. Respeitando todos os gostos contrários, porque a sensibilidade do povo é muito grande, vou mostrar aqui um pouco do que eu conheço destes lugares e porque eles são os meus preferidos:


Brasília 
Bar Brahma - CLS 201, Bloco C, Asa Sul
Para mim, nada se compara à roda de samba de sábado do Bar Brahma Brasília. Perfeito para todos os gostos, tem o chopp tradicional com dois dedos de colarinho, buffet de feijoada e samba do Grupo Bom Partido. Lá, é bem-vindo tanto o sambista mais humilde, que sai de casa de vez em quando para curtir a boa música, quanto aquele que não vive sem uma boa festa regada a samba da melhor qualidade. Na minha humilde (mas não modesta) opinião, o Bom Partido é o melhor e mais carismático grupo da Capital Federal, digno de todos os elogios de quem aprecia o ritmo que é a marca registrada do povo brasileiro. Seus integrantes tem raiz no samba carioca e são capazes de tocar na nossa alma com seu repertório sempre surpreendente. Além disso, meus amigos e colegas do Centro de Dança Alex Gomes dão um show de samba de gafieira muito bem apresentado.


Sandra de Sá e eu no Bar Brahma Brasília


Tartaruga Lanches - SCRN 714/715, Asa Norte
Um bar pequeno, sem tanto espaço na mídia, e que talvez não chame a atenção de quem anda pelas quadras do final da Asa Norte. Mesmo assim, o Tartaruga tem o seu valor. A roda de choro nas noites de sexta e o samba pegado, sob o comando de Marquinhos Benon, mostram que este lugar simples, com cadeiras e mesas de plástico e um bom espaço para o sambista mostrar o que sabe no pé, é uma ótima pedida de lazer no Planalto Central. A música é de primeira, tocada por vários professores e alunos formados pela minha estimada Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello. Sem contar o ambiente familiar em que até o proprietário vem te servir uma cerveja bem gelada na mesa. Ambiente simples e repertório sofisticado. Esse é o Tartaruga!


Rio de Janeiro
Bar Semente - Rua Joaquim Silva, 138, Lapa
Em uma das minhas passagens pela Cidade Maravilhosa em 2011, quando fui acompanhar a escolha do samba-enredo da Mangueira deste ano, quis conferir o lugar de onde surgiu a grande cantora Teresa Cristina e o belíssimo Grupo Semente, que a acompanha. Quando entrei no Semente, minha primeira impressão foi de ter errado o endereço, pois era um espaço acanhado com, no máximo, dez mesas para abrigar o público. Dentro do bar, apenas eu, o operador de som, o segurança, a cozinheira e a garçonete. Ainda assim, sentei numa mesa à beira da janela de onde enxergava os Arcos da Lapa, cercado por vendedores ambulantes, do outro lado da rua. Em poucos minutos, o bar lotou e a minha expectativa reverteu positivamente. Fui surpreendido pelo ótimo grupo de samba chamado Escangalha a Maçaneta, liderados pela cantora Elisa Addor. Não pensei duas vezes antes de comprar seu CD e ouvir sua belíssima voz repetidas vezes. A faixa 2 "Por Isso Mangueira" é um hino a todo sambista e torcedor verde-rosa.


Marquês de Sapucaí 2012: "Por isso Mangueira; És a companheira de uma vida, querida; Oh, minha Estação; Primeira paixão; Que o tempo não vai separar"


Lapa 40 Graus - Rua Riachuelo, 97, Lapa
Alguém há de perguntar: "Tiagão, por que tu colocaste uma casa noturna "chique" como o Lapa 40 Graus numa lista de simples bares e botecos?" Elementar, caros amigos! Além de ter três andares, shows de músicos renomados, boutique própria, mesas de sinuca para jogar a madrugada inteira e ter a grife Carlinhos de Jesus (com quem terei a honra de ter aulas de samba de gafieira ainda este ano), o Lapa 40 Graus tem muito de boteco, sim senhor. Logo na entrada, estão ali as mesas, cadeiras, espaço próprio para os casais desenvolverem o seu bailado e um grupo de samba esquentando a noite de quem chega cedo ao local. A festa no Lapa 40 Graus começa em ritmo de boteco e é por causa disso que as pessoas se sentem em casa. Depois sim, é só subir para o segundo andar, levar a sua lembrança da boutique, beber sua cerveja bem gelada ou seu drinque preferido e terminar a noite no mega salão do terceiro andar, onde tive a honra de ver o grupo show do Acadêmicos do Salgueiro, há cerca de dez dias. A noite é muito quente no Lapa 40 Graus.


Santa Maria
Boteco do Rosário - Rua do Rosário, 400
Uma opção nova na noite da minha cidade natal traz uma diversificação cultural muito grande. Exposições e shows musicais variados fazem parte da programação do Boteco do Rosário. Fui conhecer este espaço e ouvi o som do Grupo Samba e Cia, que já acompanho desde sua criação. Os rapazes mandaram muito bem, mesmo sem a presença marcante do Mestre Bica, mostrando toda a qualidade do samba que se faz no coração do Rio Grande. Repertório variado, sem a amarração do setlist, tocando simplesmente o que lhes trazia alegria e naturalidade, sem esquecer de atender os pedidos do público, que participou do show do início ao fim. Até fui presenteado com o refrão do samba-enredo da Manga de 2012 na hora de ir embora. O som, a integração músicos-plateia e a cerveja de litro bem gelada, me deram uma grande vontade de voltar ao Boteco. Assim, prometo fazer na minha próxima visita a Santa Maria.


Café Cristal - Rua Alberto Pasqualini, 139, Centro
Não tenho muito a falar sobre o Cristal. A energia e a história deste espaço falam por si só. Apenas tenho a obrigação de colocá-lo na lista, porque quem é sambista nesta cidade alguma vez já passou por lá, seja tocando, cantando ou assistindo e batendo palmas como eu. Parada obrigatória no centro da cidade.

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