quinta-feira, 29 de março de 2012

Opinião


Em novembro de 2007, participei da Oficina de Jornalismo da Rádio Guaíba em Porto Alegre, sob orientação da jornalista Sinara Félix, com outros 11 estudantes de faculdades de Jornalismo gaúchas. Eu era o único representante do interior do Estado e aproveitei muito a oportunidade. Durante uma semana, conhecemos as estruturas da Assembleia Legislativa do RS, das autoridades policiais da Capital, da cobertura esportiva em um grande clube de futebol e todo o funcionamento da emissora, através de encontros com jornalistas e radialistas. Um destes encontros foi com o âncora Rogério Mendelski, de larga experiência no jornalismo gaúcho e dono de opiniões fortes e polêmicas, sobretudo na política. Há quem o ame e quem o odeie, mas quase todos o ouvem.


Nesta palestra, prestei bastante atenção na fala do jornalista e, com a curiosidade de um formando, perguntei: "- Mendelski, quando tu decidiste se dedicar ao jornalismo opinativo?" Obviamente, ele sempre se interessara por este modo de se expressar, mas um fato o fez definir o rumo da sua carreira. A minha memória não consegue resgatar as palavras exatas ditas há quase cinco anos, mas a história se tratava de um candidato a vereador em Porto Alegre, de origem humilde e querido por todos, cuja história Mendelski acompanhou. Porém, depois de eleito, o vereador em questão mudou completamente o seu jeito de ser, perdeu a simplicidade, ganhou empáfia e deixou, literalmente, que "o poder lhe subisse à cabeça".


Turma da Oficina de Jornalismo da Guaíba 2007 com Rogério Mendlski.
Sim,eu era magro.
Eu não pertenço ao time dos comentaristas e analistas. Pelo contrário, prefiro lidar com a informação e a notícia para que o público tire as suas próprias conclusões sobre os diversos assuntos. Porém, quando presencio alguns fatos, deixo aqui para os meus amigos o que eu penso sobre eles. Nossa lei maior, a Constituição Federal de 1988, nos garante a livre expressão, sendo vedado o anonimato. Aqui, todos sabem quem sou e que só opino sobre assuntos que considero relevantes e tenho bom conhecimento. 


Para quem conheceu meu blog recentemente ou para os velhos amigos que estão com tempo livre para relembrar, coloco abaixo os links para os meus principais textos opinativos publicados neste blog.


Leiam! Concordem! Discordem! A democracia é marca do blog.

A importância do noticiário local - Quando uma rádio onde eu trabalhei em Santa Maria estava prestes a fechar, escrevi este texto em tom de protesto que ajudou, inclusive, no meu trabalho de conclusão de curso na UFSM.

507 a 0 - A Universidade Federal de Santa Maria aprovou em 2007 a implantação do sistema de cotas no seu vestibular. As opiniões na época demonstraram claramente o quão retrógrada é parte da sociedade santa-mariense. Também marquei posição.

Be my Sky - Foi mais protesto do que opinião contra a minha operadora de TV a cabo.

Não recomendo - Seria cômico se não fosse trágico. Essa frase pode resumir este texto onde, com bom humor, eu detono o pior hotel em que já me hospedei.

A corrida pelo diploma - Aproveitando o fato de trabalhar dentro do Poder Legislativo, coloquei minha opinião sobre a obrigatoriedade do diploma para o exercício do Jornalismo, tema que está em discussão no Congresso Nacional.

Capital do Samba - Dentro do assunto que me dá mais prazer, escrevi sobre a evolução do samba na Capital Federal, conhecida por ser a "capital do rock". Cariocas que visitam Brasília deixam claro que a qualidade do samba cantado, tocado e dançado aqui cresce cada vez mais.

Clube do quê? - Texto sobre a minha decepção em uma roda de samba, na verdade uma boate com samba, de Santa Maria. Fui surpreendido por um público frio na pista e um teatro no palco. Meu coração escreveu e 250 pares de olhos leram a minha opinião.

Samba é no boteco - Ainda sobre o meu ritmo preferido, postei as minhas andanças por rodas de samba Brasil afora e fiz um resumo elogioso dos meus lugares preferidos.

A vitória do Ctrl C + Ctrl V - O carnaval de rua de Santa Maria me rendeu a mais recente opinião polêmica deste blog. Como se trata de "uma cidade média, com problemas de cidade grande e mentalidade de cidade pequena", os criticados mais uma vez se incomodaram e, é claro, se chocaram.

terça-feira, 20 de março de 2012

A vitória do Ctrl C + Ctrl V


Unanimidade. Duzentos pontos, nenhum décimo perdido na apuração. Superioridade incontestável. Assim foi o desfile da campeã do carnaval 2012 de Santa Maria, Barão de Itararé. Todos concordam que a disparidade foi muito grande da vencedora para as outras sete concorrentes. Mesmo assim, a polêmica sobre o resultado continua porque as fantasias que encantaram a todos nas arquibancadas e nas imagens divulgadas eram de segunda mão. Todas haviam sido usadas no carnaval de Uruguaiana pela escola Unidos da Cova da Onça, campeã naquela cidade, e foram confeccionadas no Rio de Janeiro.


Até hoje, o carnaval de Santa Maria passou por diversas fases, tendo inúmeros destaques no passado e outros tantos no presente. O desfile deste ano abriu novas portas. Um caminho parecido com o que foi adotado por Uruguaiana, onde o carnaval fora de época virou a principal atração turística da cidade devido a sua beleza estética, profissionalismo dos diversos setores e alto investimento do poder público. Porém, Santa Maria ainda carece de apoio da prefeitura (que é muito acanhado), dispõe de "amadores" (porque não recebem pelo trabalho) na maior parte dos setores das escolas de samba e toda a beleza trazida neste carnaval foi simplesmente copiada de outro desfile, mesmo com enredos diferentes.


Ala da escola de samba Unidos da Cova da Onça, de Uruguaiana.
Foto: Site Samba Sul. Link de Origem


Uma apresentação de escola de samba é composta por várias áreas e julgada por alguns quesitos independentes. Não contam apenas a beleza e o luxo, embora sejam as partes que mais chamam a atenção do público, mas também qualidade do samba, bateria, harmonia, evolução e, principalmente, na minha opinião, a história (enredo) bem contada


A mesma fantasia na escola de samba Barão de Itararé, de Santa Maria.
Foto: Ronald Mendes/Agência RBS. Link de Origem


Como carnavalizar uma história com as mesmas fantasias ou alegorias que já foram usadas em outro enredo? Como alguém que desfila vestido da mesma forma pode significar duas coisas diferentes em dois desfiles? A criatividade não conta mais em uma escola de samba? Qual a função de um carnavalesco: desenhar, montar e dirigir a apresentação do seu enredo ou utilizar a obra de outros e remendar uma história que já foi contada?


Nestes meus 26 anos de idade, é claro que não tenho respostas definitivas para estas perguntas, mas tenho minhas opiniões formadas, depois de dispender um tempo considerável como “amador” da folia. Creio que a simples cópia de outros desfiles, por melhores que eles sejam, não representa a verdadeira evolução do carnaval de Santa Maria. Nós temos material humano competente para elaborar um ótimo resultado na Avenida Liberdade. É claro que queremos e precisamos dar muitos passos à frente e cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Uruguaiana, por exemplo, têm muito a nos ensinar


Então, o melhor é ter humildade e aprender. Fazer excursões para barracões e ateliês, participar de oficinas, trazer os melhores profissionais de fora durante o ano para passarem adiante as suas experiências, adquirir materiais de primeira linha para a confecção de fantasias e carros alegóricos mais impactantes, criativos e resistentes. Parece difícil, pois requer trabalho e esforço de muita gente. Já está provado que copiar e colar na Liberdade é muito mais fácil, frio, calculista, dá títulos e enche os olhos de quem vê. Por outro lado, nada se compara a um carnaval criado em casa com qualidade superior no trabalho e um toque a mais de emoção. Não basta ter taça no armário, tem que ser campeão na vida para fazer assim.

sábado, 17 de março de 2012

Coração verde e rosa

Comecei minhas férias deste ano realizando um grande sonho: desfilar na minha querida Estação Primeira de Mangueira. A minha ala Baile de Elite foi destaque do terceiro setor da escola cantando o samba com toda força dos pulmões e ajudando a contagiar a Sapucaí naquele desfile maravilhoso.

Além disso, passar em frente a 72 mil pessoas na avenida foi uma emoção ímpar, sem adjetivos que possam descrever. Evoluí ao ritmo da bateria Surdo Um, a melhor e mais marcante do planeta, mas o meu objetivo ainda não estava cumprido.

Faltava eu voltar para o meu rincão e seguir defendendo as cores verde e rosa. Em Santa Maria, havia um surdo de primeira marcação guardado para mim na sala de instrumentos da Unidos do Itaimbé. E vai ser marcando com este surdo que eu vou desfilar na Avenida Liberdade na noite deste sábado. Nossa bateria Pressão nº 1 vai tocar com muito swing o samba-enredo que homenageia o centenário do Riograndense Futebol Clube.

Puxando o nosso samba vem aí Paulinho Mocidade, tetracampeão do carnaval carioca. Então, para encerrar essas férias e um carnaval inesquecível com chave de ouro, eu trago o samba da Unidos do Itaimbé e o canto de guerra do nosso intérprete: Chegou a hooooooooooora!

100 Anos de Paixão no Coração do Rio Grande 

Compositores: Ramires Monteiro e Mestre Bica
 

(bis)
VOA PERIQUITO VOA
A TUA HISTÓRIA CENTENÁRIA É GLORIOSA
ITAIMBÉ HOJE VOA CONTIGO
MEU CORAÇÃO É TEU NINHO VERDE ROSA

 

ERA UMA VEZ UM JOGO INGLÊS
QUE CHARLES MILLER TROUXE PARA O BRASIL
LOGO SE VIU QUE O FUTEBOL
FEITO CABRAL VEIO E NOS DESCOBRIU
O TEMPO PASSA E A GALOPE VEM O TREM
TRAZENDO APITO E FUMAÇA
A TORCIDA VEM TAMBÉM
QUE BONITO OS EUCALIPTOS
ENGALANADO PARA O BAILE DOS CEM ANOS
ATÉ DUMONT JOGOU, DRIBLOU AS NUVENS COMO QUIS
LANÇOU A BOLA DE UM AVIÃO 14 BIS

(bis)
CORAÇÃO VERDE A BATER
PARA TI VAMOS TORCER
NA VITÓRIA OU NA DERROTA
RIOGRANDENSE ATÉ MORRER

 

FOI VICE GAÚCHO
VENCEU O OLÍMPIA DO URUGUAI
SEUS GOLEADORES MARCARAM ATÉ DE BICO
E O BOTAFOGO DE GARRINCHA PERDEU PARA O PERIQUITO
QUANTA EMOÇÃO NOS CLÁSSICOS RIONAIS
RIOGRANDENSE E COLORADO SÃO MAIS IRMÃOS QUE RIVAIS
HOJE É SÓ FELICIDADE
DO CENTENÁRIO DA CIDADE FOI CAMPEÃO
FUTEBOL É AMOR É SAUDADE
TORCER PRO PERIQUITO É PAIXÃO

quarta-feira, 14 de março de 2012

Aos futuros jornalistas


Nada como um dia após o outro. Até 25 de janeiro de 2008, eu era mais um estudante de Jornalismo, nos bancos da Universidade Federal de Santa Maria, sonhando em fazer a minha parte para tornar o mundo melhor. O sonho permanece, é claro. Agora, do outro lado da bancada, eu já posso contribuir divulgando informações que tem a ver com a vida de cada cidadão brasileiro, como locutor da Rádio Senado, especialmente quando integro a equipe que narra os fatos mais importantes do país no programa A Voz do Brasil.


E, no último dia 9 de março, pude contar um pouco dessa minha curta experiência, nas fases de estudante e de recém-formado, aos alunos da disciplina de Jornalismo Político do Centro Universitário Franciscano (Unifra), sob orientação do professor Gilson Piber. O título da palestra foi "Jornalismo Político: as rotinas produtivas da Rádio Senado". No encontro, em forma de bate-papo, narrei um pouco da minha história, sonhos de estudante, aprendizados no mercado de trabalho, a saga dos concursos públicos e sobre a nova vida em Brasília. 


Essa última parte foi a que mais rendeu, pois os alunos perguntaram muito sobre o que acontece na Capital do país e no Congresso Nacional, como tramitação de leis, bastidores e atuação geral dos nossos governantes. Mesmo estando lá há apenas 14 meses, essa convivência já me proporcionou ter um conhecimento um pouco além do que é mostrado diariamente pelos principais veículos de imprensa. A propósito, acho que essa foi uma tônica importante da nossa conversa. Lembrar aqueles que são o futuro do jornalismo da necessidade de buscar mais informações do que é oferecido pela mídia e tentar entender como e por quê as coisas acontecem de tal forma na política.


Gostei muito dessa experiência de poder compartilhar com os alunos do professor Gilson as alegrias e percalços pelos quais passei. Pude deixar aos futuros jornalistas a mensagem de sempre acreditarem no seu potencial e para seguirem os bons exemplos que, sem dúvida, são maioria na nossa área. Parabéns e boa sorte aos estudantes de Jornalismo da Unifra.

sábado, 10 de março de 2012

Samba é no boteco

Como samba é um assunto que o santa-mariense gosta de ler, pelo que já vi, vamos falar mais do assunto. Por que será que as melhores rodas de samba acontecem nos bares e botecos? Eu não tenho a resposta definitiva, mas pelos meus giros por esse Brasil afora, percebi que os botecos são muito mais aconchegantes, se parecem mais com a nossa casa e quem toca nesses lugares mostra muito mais prazer e sinceridade naquilo que faz. Respeitando todos os gostos contrários, porque a sensibilidade do povo é muito grande, vou mostrar aqui um pouco do que eu conheço destes lugares e porque eles são os meus preferidos:


Brasília 
Bar Brahma - CLS 201, Bloco C, Asa Sul
Para mim, nada se compara à roda de samba de sábado do Bar Brahma Brasília. Perfeito para todos os gostos, tem o chopp tradicional com dois dedos de colarinho, buffet de feijoada e samba do Grupo Bom Partido. Lá, é bem-vindo tanto o sambista mais humilde, que sai de casa de vez em quando para curtir a boa música, quanto aquele que não vive sem uma boa festa regada a samba da melhor qualidade. Na minha humilde (mas não modesta) opinião, o Bom Partido é o melhor e mais carismático grupo da Capital Federal, digno de todos os elogios de quem aprecia o ritmo que é a marca registrada do povo brasileiro. Seus integrantes tem raiz no samba carioca e são capazes de tocar na nossa alma com seu repertório sempre surpreendente. Além disso, meus amigos e colegas do Centro de Dança Alex Gomes dão um show de samba de gafieira muito bem apresentado.


Sandra de Sá e eu no Bar Brahma Brasília


Tartaruga Lanches - SCRN 714/715, Asa Norte
Um bar pequeno, sem tanto espaço na mídia, e que talvez não chame a atenção de quem anda pelas quadras do final da Asa Norte. Mesmo assim, o Tartaruga tem o seu valor. A roda de choro nas noites de sexta e o samba pegado, sob o comando de Marquinhos Benon, mostram que este lugar simples, com cadeiras e mesas de plástico e um bom espaço para o sambista mostrar o que sabe no pé, é uma ótima pedida de lazer no Planalto Central. A música é de primeira, tocada por vários professores e alunos formados pela minha estimada Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello. Sem contar o ambiente familiar em que até o proprietário vem te servir uma cerveja bem gelada na mesa. Ambiente simples e repertório sofisticado. Esse é o Tartaruga!


Rio de Janeiro
Bar Semente - Rua Joaquim Silva, 138, Lapa
Em uma das minhas passagens pela Cidade Maravilhosa em 2011, quando fui acompanhar a escolha do samba-enredo da Mangueira deste ano, quis conferir o lugar de onde surgiu a grande cantora Teresa Cristina e o belíssimo Grupo Semente, que a acompanha. Quando entrei no Semente, minha primeira impressão foi de ter errado o endereço, pois era um espaço acanhado com, no máximo, dez mesas para abrigar o público. Dentro do bar, apenas eu, o operador de som, o segurança, a cozinheira e a garçonete. Ainda assim, sentei numa mesa à beira da janela de onde enxergava os Arcos da Lapa, cercado por vendedores ambulantes, do outro lado da rua. Em poucos minutos, o bar lotou e a minha expectativa reverteu positivamente. Fui surpreendido pelo ótimo grupo de samba chamado Escangalha a Maçaneta, liderados pela cantora Elisa Addor. Não pensei duas vezes antes de comprar seu CD e ouvir sua belíssima voz repetidas vezes. A faixa 2 "Por Isso Mangueira" é um hino a todo sambista e torcedor verde-rosa.


Marquês de Sapucaí 2012: "Por isso Mangueira; És a companheira de uma vida, querida; Oh, minha Estação; Primeira paixão; Que o tempo não vai separar"


Lapa 40 Graus - Rua Riachuelo, 97, Lapa
Alguém há de perguntar: "Tiagão, por que tu colocaste uma casa noturna "chique" como o Lapa 40 Graus numa lista de simples bares e botecos?" Elementar, caros amigos! Além de ter três andares, shows de músicos renomados, boutique própria, mesas de sinuca para jogar a madrugada inteira e ter a grife Carlinhos de Jesus (com quem terei a honra de ter aulas de samba de gafieira ainda este ano), o Lapa 40 Graus tem muito de boteco, sim senhor. Logo na entrada, estão ali as mesas, cadeiras, espaço próprio para os casais desenvolverem o seu bailado e um grupo de samba esquentando a noite de quem chega cedo ao local. A festa no Lapa 40 Graus começa em ritmo de boteco e é por causa disso que as pessoas se sentem em casa. Depois sim, é só subir para o segundo andar, levar a sua lembrança da boutique, beber sua cerveja bem gelada ou seu drinque preferido e terminar a noite no mega salão do terceiro andar, onde tive a honra de ver o grupo show do Acadêmicos do Salgueiro, há cerca de dez dias. A noite é muito quente no Lapa 40 Graus.


Santa Maria
Boteco do Rosário - Rua do Rosário, 400
Uma opção nova na noite da minha cidade natal traz uma diversificação cultural muito grande. Exposições e shows musicais variados fazem parte da programação do Boteco do Rosário. Fui conhecer este espaço e ouvi o som do Grupo Samba e Cia, que já acompanho desde sua criação. Os rapazes mandaram muito bem, mesmo sem a presença marcante do Mestre Bica, mostrando toda a qualidade do samba que se faz no coração do Rio Grande. Repertório variado, sem a amarração do setlist, tocando simplesmente o que lhes trazia alegria e naturalidade, sem esquecer de atender os pedidos do público, que participou do show do início ao fim. Até fui presenteado com o refrão do samba-enredo da Manga de 2012 na hora de ir embora. O som, a integração músicos-plateia e a cerveja de litro bem gelada, me deram uma grande vontade de voltar ao Boteco. Assim, prometo fazer na minha próxima visita a Santa Maria.


Café Cristal - Rua Alberto Pasqualini, 139, Centro
Não tenho muito a falar sobre o Cristal. A energia e a história deste espaço falam por si só. Apenas tenho a obrigação de colocá-lo na lista, porque quem é sambista nesta cidade alguma vez já passou por lá, seja tocando, cantando ou assistindo e batendo palmas como eu. Parada obrigatória no centro da cidade.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Clube do quê?

É bom cantar numa roda de samba onde só gente bamba pode versar. Pensando nesses versos do Fundo de Quintal, eu procuro uma boa batucada em qualquer lugar que eu vá, seja no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro ou em Brasília. Em Santa Maria, que é saudosa dos pagodes do bar São Francisco, Café Brasil, Clube Santamariense, Associação dos Ferroviários e Clube Treze de Maio, onde já cantou até Jamelão, quis conferir um samba propagandeado com alarde nas redes sociais. Fui ao Muzeo, domingo à noite, ver um grupo com o pretensioso nome de Clube do Samba. Não curti e escrevo este texto para que você, amigo-leitor, se previna desse samba fake e não compartilhe a minha decepção


Malandro é malandro e mané é mané, pode crer que é! Como me disseram que o público de lá era de "alto nível" em relação aos locais que eu estava acostumado, caprichei na beca: vesti minha camiseta oficial da Casa de Shows Lapa 40 Graus, usada por Carlinhos de Jesus, e pus meu chapéu panamá com uma faixa especial para a ocasião. Ao abrir a porta do "salão", não vi sambistas e sim pessoas que queriam estar no Absinto Hall e não tinham carona para descer a Avenida Fernando Ferrari. Todos me olhavam como se eu fosse um ET ou um carioca (o que no mundinho deles deve ser a mesma coisa). O "público de alto nível" bebia Budweiser, mas não conhecia João Nogueira ou Nelson Cavaquinho e só cantava em coro quando os pretensiosos tocavam um pagode tema de novela. Quando rolava um Zeca Pagodinho, o "público de alto nível" dançava xote, vanerão, sertanejo, tudo menos samba de gafieira. Realmente, era muito diferente do que eu estava acostumado.


Carioca da Gema, Lapa, Rio de Janeiro: roda de samba de primeira ordem


Sambar é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio, já dizia Noel Rosa. Em cima do palco, eu vi vários músicos experientes cantando sambas de boa qualidade, todos bem vestidos e com arranjos ensaiados. Mas não passava disso, era só a casca. A essência, que me faz gostar do samba acima de todos os outros ritmos, não estava lá. Eu não ouvia um coração cantando naquele microfone nem em qualquer instrumento que eles tocavam. Por mais que eles fizessem caras, bocas, erguessem as mãos para o céu, tirassem o chapéu, se ajoelhassem, nada daquilo era verdadeiro. Palavra de quem já se emocionou ao ver, a menos de dez metros de distância, Diogo Nogueira cantando os sucessos de seu pai.


Simplesmente tô dando esse alô porque sei que você não é de nada, né não Bezerra da Silva? Quem se intitula Clube do Samba não pode se apresentar com um pandeiro de acrílico da Contemporânea nem com um surdo tão agudo que não se destaca e mal se ouve do meio do salão. Isso é coisa de grupo de pagode colegial do sexto ano. O Brasil está cheio de luthiers que fabricam os melhores pandeiros do mundo, com madeiras nobres e pele de cabra, é só buscar na internet que os caras entregam em casa. E afinação de surdo para samba é uma coisa primária. Estes músicos experientes, que já passaram por outras bandas tocando outros ritmos, agora emprestam sua qualidade ao samba. Esta é a fase atual deles, mas será que, se não der certo, eles não fundam o Clube do Forró ou o Clube do Jazz? Se nada for como o planejado, talvez comprem perucas com trancinhas e criem o Clube do Reggae... Em último caso, podem tocar no Clube do Coroa.


Nelson Sargento e Partideiros do Cacique, Mangueira, Rio de Janeiro: bambas do samba


Como diria o mestre Paulinho da Viola, o samba é alegria falando coisa da gente, se você anda tristonho no samba fica contente. Se realmente existisse um "Clube do Samba", todos poderíamos admirar, mas poucos entrariam. A sede seria na Lapa, Rio de Janeiro, e haveria sócios por todo o Brasil. Do coração do Rio Grande do Sul, com certeza estariam lá Tio Miro da Cuíca, Mestre Bica, Renato e Ronaldo Félix, Fando, Chicão Cassales e outros que são fiéis ao ziriguidum e muito fizeram e fazem pelo samba na cidade. Mas não se engane amigo-leitor: se você quer uma festa legal, com bastante gente bonita, cerveja gelada e diversão, vá ao Clube do Samba, no Muzeo, aos domingos. Mas se, além disso, você quer samba de alta qualidade, tocado por sambistas de primeira e um público que aprecia de verdade o que está ouvindo, então dê meia-volta porque o caminho é outro. Procure na programação pelos grupos Samba e Cia e Quarteto do Samba ou vá a um ensaio de uma das escolas de samba da cidade que você vai gostar. Palavra de sambista.