quinta-feira, 2 de agosto de 2007

507 a 0

São várias as razões para a permanência do preconceito no Brasil: desconhecimento de ciências que comprovam a inexistência de raças, medo da perda do status adquirido ao longo de mais de meio milênio, manutenção do vilipêndio cultural à metade da população, chance de fazer (ou sentir-se) parte da minoria dominante, ou, simplesmente, mentalidade retrógrada.


O sistema de cotas na UFSM é o início de uma virada que ainda vai demorar muito tempo para se concretizar. Mesmo sendo o segundo país com o maior número de negros no mundo (atrás apenas da Nigéria), o Brasil conseguiu produzir um quadro de extrema desigualdade étnica, com alarmante discrepância em índices de desenvolvimento humano. Fora isso, os portadores de necessidades especiais sofrem com as gigantescas provas em braile, gastos médicos extras, falta de professores especializados e sérios problemas de acessibilidade a locais públicos.


Nossos acadêmicos avançam a passos largos nas pesquisas com células-tronco, têm amplo reconhecimento em estudos de microeletrônica e meteorologia, mas foram incapazes de pensar algo relevante para a questão racial. A intenção é pagar uma dívida histórica, mas as cotas não são suficientes nem para os juros.


O ideal seria se, no dia 13 de maio de 1888, ao invés de proclamarem: ‘Vocês estão livres, vão embora, passem bem.’, fosse dito ‘Aqui está a sua liberdade. Tome também um pedaço de terra para o recomeço de sua vida, escola para seus filhos e uma indenização pelos 350 anos de escravidão a que seus antepassados foram submetidos’. Isso mesmo: 350 anos, contra 120 de liberdade. Já em igualdade, ainda perdemos por 507 a 0.


Esse é o placar a favor da desigualdade, da discriminação racial e da exclusão social. O contra-ataque começa dando oportunidade aos ‘sem-acesso’. Aos que chegaram aqui antes de todos; aos que precisam de cuidados especiais; aos que têm a cor da noite, já desejaram liberdade e lutam para ver o clarão da igualdade. Àqueles que Castro Alves chamou de ‘homens simples, fortes, bravos’. A todos que há cinco séculos ajudam a construir, na raiz, este gigante chamado Brasil.

Nenhum comentário: